Dilomar diz que Franceschetti o ameaçou de morte: ‘não me custa’
Dilomar Batista, ex-funcionário da Apae que confessou ter ajudado a incinerar o corpo de Claudia Lobo, afirma ter sido ameaçado de morte pelo ex-presidente da entidade, Roberto Franceschetti Filho, réu acusado de assassinar a tiro a ex-secretária executiva em agosto de 2024. Em entrevista exclusiva concedida ao jornalista Alexandre Colim no programa Balanço Geral, da Record Paulista, ele contou que Franceschetti o coagiu a manter sigilo sobre o ocorrido.
“Eu não estou de brincadeira. Fica quieto, que não vai dar nada. Quem vai investigar o presidente da Apae? Quem tem a perder é você. Já foi um e, para ir dois, não me custa. Fica na sua’, teria dito o ex-presidente, após desovar o corpo de Claudia em um buraco onde Dilomar costumava queimar documentos – considerados “arquivo morto” – da Apae, em uma área de chácaras às margens da rodovia Bauru-Iacanga.
O ex-funcionário, que responde em liberdade pelos crimes de ocultação de cadáver e fraude processual, também afirmou estar arrependido do que fez, revelou estar desempregado e ter pensado em tirar a própria vida. Contou ser amigo de longa data de Franceschetti, já que ambos são de Ubirajara, época em que o chamava pelo apelido de Gugu.
Quando os dois já estavam morando em Bauru, voltaram a estreitar laços. Dilomar estava trabalhando como frentista e fazia bicos na área de chácaras da Bauru-Iacanga, quando foi convidado pelo então presidente da Apae a assumir o setor de compras da instituição, meses antes da morte de Claudia. “Nunca imaginei que isso aconteceria, até porque não vi nada de errado dentro da entidade”, sustenta, acrescentando que não integrou o esquema de desvios financeiros na associação, pelos quais dez pessoas foram presas por suspeita de participação.
De acordo com o ex-funcionário, os documentos arquivados no almoxarifado foram queimados na área de chácaras por sua sugestão, com o objetivo de dar espaço para a guarda de cadeiras de rodas recém-encomendadas pela Apae. No inicio da tarde de 6 de agosto de 2024, ele teria levado uma Montana cheia de papeis até o local.
“Encostei a Montana de ré no buraco, comecei a jogar os documentos, o fogo levantou e o Roberto me ligou, perguntando onde eu estava. Logo depois, ele chegou na Spin e disse que trouxe ‘um negócio’ para queimar. Quando olho, vejo algo enrolado em um cobertor e o pedaço de uma canela aparecendo”, relata.
Dilomar alega ter se assustado com a cena e feito menção de sair do local, quando foi intimidado por Franceschetti pela primeira vez. “Ele falou: ‘Não corre. Fica quieto, na sua aqui. Já era, já era. Se você ficar de boca calada, não dá nada para você’. Na hora, imaginei que fosse a esposa dele”, detalha, acrescentando que afastou-se para não assistir à desova do corpo no buraco em chamas.
Na sequência, o ex-presidente teria jogado mais papeis e álcool por cima do cadáver. Depois, ele teria proferido a segunda ameaça de morte e obrigado Dilomar a limpar uma porta da Spin com respingos de sangue. À Polícia Civil, o ex-funcionário também confessou ter tirado manchas do banco traseiro e vidros do carro.
Detalhes do trágico desfecho
Segundo Dilomar, Franceschetti saiu do local com a Montana, levando a chave da Spin. O ex-presidente teria ligado inúmeras vezes para se certificar de que tudo estava sob seu controle e retornado horas depois em um carro branco. De lá, saiu à frente e o funcionário, dirigindo a Spin, atrás.
O veículo foi abandonado na Vila Dutra, enquanto Franceschetti abastecia o carro que conduzia em um posto de combustíveis. Pouco depois, ele encontrou Dilomar na avenida Elias Miguel Maluf, quando o teria ameaçado novamente, e o deixou na avenida Nuno de Assis. “Ele me deu a chave da Montana e disse que ela estava em uma rua perto de casa. Levei a Montana até a Apae, peguei minha moto e fui embora”, destaca.
Só no dia seguinte, quando soube do desaparecimento de Claudia, diz ter percebido que o corpo queimado era o da ex-secretária executiva. Quatro dias depois, ele voltou ao local para se certificar de que não restavam mais vestígios no buraco. “Fui mexendo com um pedaço de pau nas beiradas, porque no meio ainda estava muito quente. Puxei o que imaginei que poderiam ser ossos e descartei em um saco ao lado de um pé de mamona”, completa.
Por Jornal da Cidade