Ao menos 40% dos moradores de Bauru estão com o ‘nome sujo’
Ao menos 40% dos moradores de Bauru estão com o nome negativado – o tal ‘nome sujo’, como é popularmente conhecido. A situação é enfrentada por quem deixa de pagar alguma conta, como parcela de financiamento, aluguel, energia elétrica, água ou cartão de crédito, o que leva o credor a solicitar o cadastro deste devedor em instituições de proteção ao crédito. Uma delas é a Serasa que, a pedido do JC, realizou um levantamento segundo o qual 152.639 consumidores da cidade estavam inadimplentes no último mês de abril. O total é superior aos 147.736, do mesmo período do ano passado.
A pesquisa aponta ainda que, também em abril de 2023, o município tinha 707.090 dívidas ativas cadastradas na Serasa, que totalizavam R$ 949.929.031,72 em débitos. Isso significa que, em média, cada bauruense negativado tinha cerca de quatro contas atrasadas de aproximadamente R$ 1.343,43 cada. Os números consideram a cidade com 380 mil habitantes, segundo aponta o mais recente Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Há um ano, eram 618.282 dívidas cadastradas, que representavam R$ 792.734.747,88 em débitos, sendo o ticket médio de R$ 1.282,16 por conta (veja mais no quadro ao lado).
Dentre esses números, está uma técnica de enfermagem, de 35 anos, que pediu para não ser identificada nesta reportagem. Ela conta que, em 2020, perdeu o emprego – que não tinha registro – e, sem renda, não conseguiu pagar a fatura do cartão de crédito e as parcelas de dois crediários que havia firmado com lojas de Bauru.
“Com tenho três filhos para sustentar, tive que priorizar as contas básicas, que também ficaram atrasadas por um tempo. Assim, fiquei com o nome restrito e tive muita dificuldade para conseguir passar por tudo sem acesso a crédito. E o pior é que as dívidas ficam mais caras, por causa dos juros. Mas, graças a Deus, consegui um emprego registrado e já consegui pagar a dívida do cartão de crédito, que era de R$ 1,8 mil. Agora, estou me organizando para pagar os crediários, que, juntos, somam aproximadamente R$ 5 mil”, relata a profissional.
Aviso
Antes de ser oficialmente considerado com “nome sujo”, o consumidor geralmente recebe um comunicado da loja ou banco do qual está em atraso. A empresa também manda aviso de dívida para as instituições de proteção ao crédito, que enviam uma correspondência ao consumidor, alertando que será incluído no cadastro de inadimplentes, caso não regularize o débito.
A principal consequência em estar nesta condição é a dificuldade para conseguir crédito aprovado, como fazer empréstimos, financiamentos, aumentar o limite do cartão de crédito, obter um novo cartão ou fazer um crediário, além de também poder receber ligações de cobrança todos os dias.
Razões
O economista bauruense Carlos Roberto Sette avalia que a inadimplência pode estar ligada a vários fatores, porém, ele aponta duas hipóteses que justificariam o alto índice na cidade: a crise econômica que atinge o País e o aumento do desemprego em alguns setores.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, divulgada em 28 de abril último, a taxa de desocupação no Brasil era de 8,8% no trimestre móvel terminado em março, representando uma elevação de 0,9 ponto percentual em relação aos três meses anteriores. No entanto, este ainda é o menor resultado para o período desde 2015, quando o número fechou em 8%. Já entre janeiro e março do ano passado, o índice era de 11,1%.
“Quando o País está em crise, as empresas puxam o freio de mão, não investem e também fazem corte de gastos, como demissão de funcionários ou paralisação de contratações. Em vários setores, como o varejo, o desemprego aumentou. E, obviamente, quando a pessoa está sem renda, não consegue honrar com seus compromissos financeiros e há aumento de nomes negativados”, detalha o economista.
Ele afirma ainda que as piores dívidas são as do cartão de crédito, pois têm juros mensais de 12%, e as de cheque especial (crédito disponível na conta corrente), com taxas de aproximadamente 8% ao mês. De acordo com a Serasa, no Estado de São Paulo, em abril, 33,27% das contas atrasadas estavam relacionadas a cartões/bancos; 23,35% a utilidades, como água e luz; 7,46% ao varejo; e 3,30% a empresas de telefonia.
Por JCNET