Foto: Lorena Fagundes

Tombamento do Panela de Pressão gera discordância com Noroeste

A rejeição ou aprovação do tombamento do Ginásio Panela de Pressão como patrimônio histórico, cultural e urbanístico de Bauru só depende, agora, de deliberação da prefeita Suéllen Rosim. No último dia 3, foi publicada no Diário Oficial do Município resolução assinada pela Secretaria Municipal de Cultura referendando a decisão do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Bauru (Codepac), que votou, no ano passado, pelo tombamento do imóvel.

Agora, resta à chefe do Executivo, por meio de decreto, validar a resolução ou, então, vetá-la. Projetado pelo arquiteto Ícaro de Castro Mello e construído em 1956, o prédio pertence ao Esporte Clube Noroeste, cuja diretoria é contrária à medida (leia mais abaixo).

Pela proposta do Codepac, o ginásio passaria a ter preservados seus elementos originais internos e externos, além do bloco de vestiários, a antiga lanchonete e o caminho de interligação entre os edifícios. O tombamento também inclui uma trave de madeira remanescente do estádio Alfredo de Castilho, confeccionada por artesãos da antiga Estrada de Ferro Noroeste do Brasil.

Em sua resolução, a Secretaria de Cultura descreve que o Panela de Pressão é um exemplar raro da arquitetura esportiva modernista no Interior paulista. Além disso, a pasta menciona que Ícaro de Castro Mello desenvolveu diversos projetos arquitetônicos com vocação esportiva, como Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo, sendo, nesta última, o Esporte Clube Pinheiros um exemplo de imóvel tombado com o objetivo de transmiti-lo como herança à sociedade.

Já o conjunto de vestiários e a antiga lanchonete com fachada em alvenaria aparente, que hoje abriga o refeitório e áreas de apoio técnico do Noroeste, foram tombados por serem remanescentes do projeto original ligado à Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. A trave de madeira, por sua vez, é a representação simbólica do envolvimento ferroviário com o esporte local.

DIRETRIZES

A resolução ainda prevê diretrizes sobre futuras intervenções construtivas, como a possibilidade de adaptações para acessibilidade e segurança, desde que respeitadas as características do conjunto arquitetônico original. Qualquer alteração futura, porém, deverá ser previamente aprovada pelo Codepac.

A decisão foi duramente criticada pelo Noroeste. Em nota, o presidente do clube, Reinaldo Mandaliti , afirmou que o tombamento é “retrógrado” e compromete melhorias estruturais urgentes de que o ginásio necessita. Ele criticou a condução do processo, destacou que Bauru não possui histórico de tombamentos bem-sucedidos, pediu esclarecimentos sobre o pagamento de indenizações e sugeriu que a Prefeitura de Bauru compre o ginásio e arque com os custos de sua preservação.

“O tombamento inviabiliza significativamente a propriedade e o processo de modernização de uma agremiação que hoje integra a elite do futebol paulista e retornou ao cenário nacional por meio da Série D do Campeonato Brasileiro. Estamos em 2025 debatendo projetos concretos para a implantação de uma arena multiuso no Complexo Alfredo de Castilho, com o objetivo de ampliar os espaços de treinamento para o time profissional e viabilizar novos campos destinados às categorias de base. Esse é o caminho natural da evolução do clube”, diz.

Mandaliti também questionou a preservação de elementos internos deteriorados, acessíveis apenas a quem circula pelo interior do clube, como a trave de madeira. “Deteriorada por cupins, é proveniente de um estádio que nem existe mais, pois foi destruído por um incêndio. Aproveito a ocasião para sugerir que esse item seja recolhido e preservado em um museu sob a responsabilidade do município”, acrescenta.

Leia, abaixo, a nota na íntegra:

“O Esporte Clube Noroeste, por meio de seu presidente, Reinaldo Mandaliti, destaca que respeita muito o trabalho e a importância do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural (Codepac) de Bauru, mas discorda veementemente de uma iniciativa que considera retrógrada e prejudicial não só para a sua instituição esportiva, mas também para o município.

‘Reconhecemos o valor histórico e arquitetônico do Ginásio Panela de Pressão, especialmente por sua fachada icônica, visível a todos que passam pela rua. No entanto, a proposta de tombamento, da forma como está sendo conduzida, compromete seriamente as melhorias urgentes de que o ginásio necessita. Hoje, o Panela de Pressão clama por investimentos e modernização. Causa estranhamento, ainda, a intenção de tombar itens internos do complexo, acessíveis apenas a quem circula pelo interior do clube. Um exemplo é uma antiga trave, deteriorada por cupins, proveniente de um estádio que nem existe mais, pois foi destruído por um incêndio. Aproveito a ocasião para sugerir que esse item seja recolhido e preservado em um museu, sob a responsabilidade do Município — com o mesmo zelo dedicado à Estação Ferroviária, à casa onde viveu Pelé na rua Sete de Setembro, e ao Bauru Atlético Clube (BAC)’, afirmou. ‘Como cidadão, esse tipo de condução me preocupa. Em Bauru, infelizmente, não há histórico de tombamentos bem-sucedidos.’

Ainda de acordo com o dirigente noroestino, as estruturas esportivas citadas pelo Codepac precisam de evoluções, e não podem parar no tempo. Para Reinaldo, Bauru precisa olhar para frente e evoluir. E o Codepac quer que o esporte bauruense de altíssima performace permaneça com raízes fixadas no passado.

‘É fundamental que o Codepac nos esclareça qual será o valor da indenização que a Prefeitura de Bauru pretende destinar ao Esporte Clube Noroeste, uma vez que o tombamento em discussão inviabiliza a significativamente a propriedade e o processo de modernização de uma agremiação que hoje integra a elite do futebol paulista e retornou ao cenário nacional por meio da Série D do Campeonato Brasileiro. Estamos em 2025 debatendo projetos concretos para a implantação de uma arena multiuso no Complexo Alfredo de Castilho, com o objetivo de ampliar os espaços de treinamento para o time profissional e viabilizar novos campos destinados às categorias de base. Esse é o caminho natural da evolução do clube, que já alcançou importantes metas, incluindo a quitação de passivos trabalhistas’, afirmou.

Mandaliti cita o exemplo do estádio de Mirassol, onde o time reformulou todo o espaço, que é municipal, e hoje tem uma das fachadas mais modernas, imponentes e bonitas entre todos os times da Série A do Brasileirão. Ele também sugere que a Prefeitura de Bauru compre o Ginásio Panela de Pressão; assim, poderá preservá-lo e arcar com seus custos.”

SANTUÁRIO

Em outra resolução publicada na mesma edição do Diário Oficial, a Secretaria de Cultura também manifestou-se favoravelmente ao tombamento do Santuário Nossa Senhora de Fátima como Monumento Histórico-Cultural e Religioso da cidade. Segundo a pasta, o prédio é reconhecido como um dos mais significativos exemplos da arquitetura modernista religiosa de Bauru.

Projetado pelo arquiteto português Fernando Pinho, o edifício se insere no conjunto de obras que marcam a presença e contribuição da comunidade portuguesa para o patrimônio histórico-cultural do município, além de ser representativo para a comunidade cristã católica local. Além do templo, há previsão para preservação da área externa e do piso permeável localizado na praça que compõe o conjunto arquitetônico.

Por Jornal da Cidade

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