Polícia Federal indicia Walmir Vitorelli e hacker Patrick Brito
O tesoureiro do PSD de Bauru e cunhado da prefeita Suéllen Rosim (PSD), Walmir Henrique Vitorelli, foi indiciado pela Polícia Federal (PF) no âmbito do inquérito que apura denúncias de que ele teria contratado o hacker Patrick César da Silva Brito para invadir dispositivos do jornalista Nelson ‘Itaberá’, de Bauru, e derrubar as redes sociais da vereadora Estela Almagro (PT).
O hacker Patrick também foi indiciado, medida já esperada desde que confessou o caso em depoimento tanto à Câmara Municipal como às autoridades. O instrumento do indiciamento formaliza a suspeita de uma pessoa em relação a um crime e sinaliza que o caso pode evoluir para uma ação penal.
A decisão da PF consta de relatório final da investigação elaborado em fevereiro. Em termos práticos, as conclusões serão agora encaminhadas ao Ministério Público Federal (MPF), que avaliará se há ou não elementos que viabilizem denúncia na esfera criminal.
Para a PF, as condutas de Walmir e Patrick configuram invasão de dispositivo informático de uso alheio, crime previsto no Código Penal, cuja pena varia de 1 a 4 anos de prisão.
Para a Polícia Federal, porém, “as informações são suficientes para se reconhecer a ocorrência do referido fato. Observa-se que essa invasão teria ocorrido, pelo menos no caso de Nelson, sob demanda de Walmir Henrique Vitorelli, que remunerou Patrick Brito pelo serviço prestado”. O pagamento foi feito numa casa de câmbio, já que o repasse se deu em dólar.
Procurado pelo JC, Walmir afirmou que “desconheço absolutamente qualquer informação quanto ao meu indiciamento, razão pela qual não possuo condições de me manifestar a respeito”. Sustentou também que “reitero a minha inocência e registro com serenidade que confio na Justiça”.
O inquérito tramitou na PF, na Delegacia de Repressão a Crimes Cibernéticos, após discussão sobre qual seria o órgão competente para investigar o caso. Coube ao Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), órgão do MP de São Paulo, encaminhar a apuração à esfera federal.
A remessa na época se deveu, segundo o Gaeco, à “internacionalidade do delito”. “Os atos executórios foram praticados no exterior” e “eventuais resultados produzidos no Brasil conduzem a competência para julgar e processar os fatos à Justiça Federal”, disse o MP.
De acordo com o relatório, o próprio Walmir admitiu ter contratado e pago Patrick Brito pelos serviços de hackeamento – ao menos no caso de Nelson. Ele negou ter solicitado a derrubada dos perfis da vereadora Estela, embora o hacker Patrick tenha assumido a invasão às plataformas da parlamentar.
Durante oitiva, o cunhado de Suéllen admitiu que “Patrick fez um levantamento de eventuais situações que envolvessem o jornalista, enviando documentos que eram praticamente todos públicos”, e que “pagou uma entrada e uma outra parte, sendo em torno de uns R$ 1.400,00”.
O caso envolvendo a contratação do hacker foi revelado em 2023 pelo vereador Eduardo Borgo (Novo), durante discurso na tribuna da Câmara de Bauru.
O elo entre Patrick e Walmir começou em Araçatuba, para cuja Polícia Civil o hacker prestaria “serviços informais”. O padrasto de Vitorelli, afinal, é pai do escrivão daquele município Felipe Garcia Pimenta – que nega participação no caso e diz não tem contato frequente com o “meio-irmão”.
Há um procedimento no âmbito administrativo que apura responsabilidade funcional de Pimenta, que teria acessado dados pessoais do jornalista a partir de um sistema interno da Polícia Civil, mas o caso segue sem conclusão.
O escrivão sustenta que a consulta às informações foi realizada por um outro policial – que, por sua vez, rejeita a acusação.
Vitorelli negou desde o início participação no esquema. Mas deu depoimentos contraditórios: ele confessou à Corregedoria da Polícia Civil ter pago valores ao hacker, enquanto disse à Civil de Bauru jamais ter sequer falado com ele.
A contratação de Patrick teria ocorrido em 2021, quando a Câmara instaurou uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) para investigar denúncias na Fundação Estatal Regional de Saúde (Fersb). Segundo consta, Walmir teria se irritado com reportagens de ‘Itaberá’ a respeito do caso.
Segundo Walmir, porém, o incômodo se deveu a uma matéria noticiando que, durante a pandemia, sua esposa — Tainara Rosim, irmã de Suéllen e atualmente assessora parlamentar do deputado estadual Paulo Correa Júnior — cantava na igreja mesmo em época de isolamento.
Ele disse que “ficou muito nervoso e entrou em contato com Patrick, pedindo a ele para verificar se havia processo do jornalista”.