PMs são investigados por agressão durante velório em Bauru
Policiais militares são investigados por agressões a familiares durante o velório de um dos dois jovens mortos um dia antes, em suposto confronto com PMs. O conflito no sepultamento ocorreu na última sexta-feira (18), no Parque Primavera, em Bauru. Ao menos cinco PMs entraram no local.
Imagens gravadas mostram agentes afastando e agredindo pessoas com cassetetes. Uma das pessoas é Nilceia Alves Rodrigues, 43, mãe de Guilherme Alves de Oliveira, 18, que estava sendo velados. Ela foi arrastada e jogada ao chão por um policial militar.
Nilceia afirmou que tentava impedir que os agentes levassem seu outro filho, de 28 anos, que teria reclamado da presença dos PMs no local. Os policiais tentaram render o irmão de Guilherme, que levou tapas ao lado do caixão e foi detido com a justificativa de desacato.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, a Polícia Militar instaurou um inquérito para apurar a conduta dos policiais envolvidos e adotar todas as medidas cabíveis. O caso foi registrado como morte decorrente de intervenção policial, tráfico de drogas, associação para o tráfico, localização/apreensão de objeto e tentativa de homicídio, pela Delegacia Seccional de Bauru.
O ouvidor da Polícia Militar Cláudio Silva disse neste domingo (20) que deve ir nesta semana a Bauru para conversar com o comando da PM local e fazer uma escuta qualificada com a comunidade. “Falei pessoalmente com o comandante-geral da PM [coronel Cássio Araújo de Freitas]”, afirma. “São imagens muito fortes e é lamentável que o luto que já foi sagrado esteja sendo tão desrespeitado pelas forças de segurança pública do estado”, diz Silva.
Jovens morreram após confronto com a polícia
Guilherme e Luís Silvestre da Silva Neto, 21, foram mortos na última quinta-feira (17). Segundo a polícia, eles teriam trocado tiros com PMs do 13º Baep (Batalhão de Ações Especiais da Polícia) em uma área de mata no Jardim Vitória. Os dois estavam próximos a um local de venda de drogas, quando teria chegado a polícia, e correram para o mato.
As famílias dos dois negam que eles estivessem armados. “Meu filho não sabia descascar uma laranja. Acho que ele nunca viu uma arma”, afirma Nilceia.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública diz que PMs faziam uma operação na comunidade do Jardim Vitória quando foram surpreendidos por criminosos que atiraram contra a equipe. “Houve a intervenção e os suspeitos foram atingidos.” As duas famílias negam a versão policial.
Tanto Nilceia quanto Maria Aparecida Urbano Soares dos Santos, 46, mãe de Luís, dizem que duas ambulâncias do Samu (Serviço Médico de Atendimento de Urgência) foram ao local, mas que os socorristas não tiveram autorização para ir até onde os jovens estavam caídos e foram embora.
Na nota, a SSP afirma que o resgate foi acionado e constatou os óbitos no local. As mães também dizem que não permitiram que elas chegassem até onde estavam os filhos. De acordo com a polícia, com os dois foram localizadas porções de entorpecentes, que acabaram apreendidas, assim como as armas que eles usavam.
Nilceia diz que só soube que o filho estava morto quando uma advogada a procurou, pegou o RG de Guilherme e confirmou o óbito com a polícia. “Eu tenho direito de saber o que aconteceu, pois não me deixaram ver o corpo. Nem sei se foram três tiros que ele levou [o jovem teria sido atingido na perna, no abdome e no peito]. Disseram que foi muito tiro”, afirma. “Quero acreditar que tenham se arrependido, pois um menino que pesa 40 kg e que tem 1,40 m não consegue segurar uma arma.”
Maria Aparecida mostrou a última mensagem que trocou com o filho, pouco antes da morte. Pelo aplicativo WhatsApp, Luís pediu R$ 15 para comprar um lanche, pois estava com fome, e cigarros. “Já chegaram atirando e eles correram para o mato com medo, mas deram de cara com a polícia”, afirma.
“Meu filho tinha marcas de terra nas mãos, acho que tentou se segurar no mato”, diz. “Quero justiça não só por eles, mas por outras mães que perderam filhos da mesma forma.”
Com informações de JCNET, UOL, CNN e G1