Oposição obtém mínimo de assinaturas para CEI dos supostos desvios da Prefeitura de Bauru
Vereadores de oposição ao governo Suéllen Rosim (PSD) conseguiram nesta segunda-feira (19) mais do que o número mínimo de sete assinaturas para instaurar a Comissão Especial de Inquérito (CEI) para apurar supostos desvios de bens da administração sob a guarda do Fundo Social, denunciados pela ex-comissionada na prefeitura Damaris Pavan.
Apesar disso, o início e a própria definição em torno da composição da CEI ficaram para a semana que vem – na avaliação da Câmara, o requerimento pela abertura do procedimento deveria ter sido protocolado com sete assinaturas até a manhã desta segunda, prazo limite para ser lido na sessão legislativa que se iniciaria na tarde do mesmo dia.
Até o fim da noite desta segunda, haviam assinado o requerimento pela abertura da Comissão Especial de Inquérito os vereadores Estela Almagro (PT), Eduardo Borgo (Novo), Júnior Lokadora (Podemos), José Roberto Segalla (União Brasil), Natalino da Pousada (PDT), Cabo Helinho (PL), Márcio Teixeira (PL), Beto Móveis (Republicanos), André Maldonado (PP), Arnaldinho Ribeiro (Avante), Júnior Rodrigues (PSD), Dario Dudario (PSD) e Miltinho Sardin (PSD).Play Video
Como a definição final só se dará na próxima segunda, outros vereadores também poderão assinar o documento ou, no caso daqueles que já o fizeram, recuar da medida e pedir a retirada da rubrica. Em nota, a administração afirmou que “recebe com tranquilidade e respeita a autonomia da Câmara como um poder independe que é” e que “reafirmamos que todos os atos foram legais e que as medidas cabíveis já foram tomadas em relação à denunciante”.
Se de fato instaurada, a CEI deve investigar a gestão do Fundo Social de Solidariedade sob a presidência da mãe da prefeita Suéllen Rosim (PSD), a atual secretária de Assistência Social Lúcia Rosim.
Os supostos desvios foram denunciados na semana passada por uma ex-aliada do governo, Damaris Pavan, que ocupou cargos comissionados na gestão Rosim de 1 de janeiro de 2021 até abril deste ano. Em nota, a prefeitura afirmou que as declarações da ex-aliada são “levianas” e “sem credibilidade” e fruto de “vingança”.
Damaris afirma ter operado pessoalmente o esquema em várias ocasiões, uma das quais envolvendo bens doados pela Polícia Civil.
Segundo ela, foram levados, além de cestas básicas, um freezer duas portas, máquina de lavar louças, aspirador de pó e dois aparelhos de televisão, objetos doados pela Polícia Civil após terem sido apreendidos pela corporação.
Todos os objetos teriam sido encaminhados a uma edícula aos fundos do antigo prédio da Mipe, na rua Maria José Cordovil de Souza – a igreja hoje está situada na Zona Sul, na rua Joaquim da Silva Martha.
Na coletiva de imprensa realizada na semana passada, Damaris exibiu mensagens com a mãe de Suéllen na qual comenta a contratação de um carreto [veículo de carga de pequeno porte]. No diálogo, Lúcia envia a ela o endereço da rua Maria José Cordovil e diz que “Marcinha” – que segundo Damaris é irmã da secretária – iria receber os objetos. O JC questionou a administração na semana passada sobre o contexto desse diálogo, mas não obteve resposta.
NOVAS MENSAGENS
No domingo (19), o jornalista Nelson ‘Itaberá’, do site Contraponto, publicou entrevista com Damaris na qual ela reafirma a denúncia e apresenta novas mensagens. Uma delas exibe conversa com Elisângela do Prado, braço-direito de Lúcia Rosim.
No diálogo, Elisângela diz que “as únicas coisas que vc fez no fundo que não devia foi ela quem mandou (sic)” – numa referência direta à mãe da prefeita, Lúcia Rosim, atual secretária de Assistência Social, sobre quem haviam conversado minutos antes.
O jornalista conversou também com uma outra ex-comissionada, Andréa Cristina Storolli, responsável pelos relatórios do Fundo Social até 2022. Andréa confirmou ao Contraponto que Damaris era a responsável pela coordenação do órgão. Ao Contraponto, Damaris também reafirmou ter revelado a Suéllen sobre o suposto esquema no Fundo Social durante uma reunião em 2023.
“Eu fui no gabinete e contei para a prefeita. Primeiro ela disse que chamaria a Polícia. Aí ligou para a mãe e ela entrou dizendo que o freezer já estava sendo colocado de volta. Mas ficou nisso”, disse Damaris.
Base vê caso frágil; para Estela, episódio confirma denúncias passadas
Não foram todos que comentaram o assunto, mas vereadores da base do governo que abordaram a denúncia da ex-aliada Damaris Pavan na sessão desta segunda-feira (19) dizem que o caso merece ser investigado, mas que os elementos da denúncia são frágeis e que a Casa precisa de cautela na potencial apuração.
Líder do governo na Câmara, o vereador Sandro Bussola (MDB) disse na tribuna que “se esta Casa se pautar por ‘prints’, todo domingo será um Domingão do Faustão”.
Para o emedebista, cujo partido orientou a bancada para não assinar o pedido de CEI nesta segunda, o caso deveria ser tratado pela Comissão de Fiscalização e Controle – presidida pelo ex-líder da prefeita na Câmara, Miltinho Sardin (PSD).
Primeiro secretário da Mesa Diretora, o vereador André Maldonado (PP) disse que, “na minha opinião, essa denúncia vem por trás de muita ira e com tom de vingança”. Ressaltou, porém, que “isso não tira nossa obrigação de olhar para esse assunto”.
Já o vereador Cabo Helinho (PL) usou o ditado “à mulher de César não basta ser honesta; tem de parecer honesta” para defender a investigação. Disse, porém, que “é preciso ter cuidado com o assassinato de reputações”.
Para a oposicionista Estela Almagro (PT), de toda sorte, a denúncia de Damaris veio a confirmar as denúncias da petista faz desde o início do mandato em torno do Fundo Social. “Esse modelo da época dos coronéis, de Fundo de Solidariedade parental, está superado. Essa lógica precisa ser superada”, afirmou.
Também abordou o assunto o vereador Márcio Teixeira (PL), para quem “a senhora Damaris não é flor que se cheire”. “Essa Casa não é palco e realmente fez o certo. Vamos apurar com transparência”.
Única da oposição a comentar o tema na tribuna, Estela rememorou iniciativas de Lúcia à frente do órgão e disse que o uso eleitoreiro do Fundo se dá desde o início de mandato. “Isso ficou muito claro quando Lúcia se lança na disputa à Assembleia Legislativa”, afirmou.
“Eu estou me lixando para Damaris. Não tenho preocupação com o passado, presente ou futuro dela. Quem a convidou para compor e ser braço direito do governo foi a prefeita”, mencionou. “Eu não vi você [Suéllen] colocar na nota [à imprensa] que é mentira, que [os prints] são montagem, que a denúncia não procede”, criticou.
Por JCNET