Número de motoristas mulheres em Bauru quase dobra em cinco anos
O número de mulheres que trabalham como motoristas em Bauru quase dobrou em apenas cinco anos, em meio a um cenário de fortalecimento de políticas de igualdade de gênero adotadas por empresas brasileiras. Segundo o Departamento de Trânsito do Estado de São Paulo (Detran-SP), são 13.125 condutoras com a observação Exerce Atividade Remunerada (EAR) inclusa na Carteira Nacional de Habilitação (CNH), quantia 89,4% superior à de 2020.
O dado é de abril de 2025, referente à última atualização da base de dados do órgão, e algo a ser celebrado neste Dia Internacional do Trabalhador. Há cinco anos, apenas 6.928 moradoras da cidade atuavam no ramo e, de lá para cá, o maior salto anual foi justamente entre 2024 e 2025, quando a quantidade de condutoras avançou 25,8%.
Na comparação com o grupo de homens que usam o veículo como ferramenta de trabalho – e ainda são maioria neste setor -, a alta entre as mulheres é significativamente superior. De 2020 a 2025, o número aumentou de 24.477 para 32.540 moradores do gênero masculino com EAR na CNH, variação de 33%, sendo que, no último ano, o crescimento foi de 4,8%.
De acordo com a base de dados do Detran-SP, atualmente, entre as pessoas que exercem atividade remunerada como motoristas no município, 28,7% são mulheres, índice que, cinco anos atrás, era de 22%.
A inclusão da observação EAR na CNH é uma exigência de empresas que contratam profissionais como motoristas de aplicativo de transporte de passageiros, taxistas, motoristas de ônibus e caminhões, motofretistas e mototaxistas. O início da escalada deste tipo de registro coincide com a pandemia de Covid-19, que ampliou a demanda dos serviços de delivery de alimentos e entrega de encomendas do comércio online, além da disseminação do uso dos aplicativos de transporte de passageiros.
E, a cada ano, o ingresso de mulheres atuando no ramo vem sendo estimulado pelas corporações, por meio do estabelecimento e fortalecimento de políticas que visam assegurar maior diversidade e igualdade de gênero entre seus quadros. Exemplos são as empresas de transporte de passageiros por aplicativo, que criaram mecanismos para motoristas mulheres poderem limitar a prestação do serviço a passageiras do mesmo gênero, além de terem condições de denunciar situações de assédio sexual dentro do veículo.
Da mesma forma, organizações de atuam com o transporte de cargas têm promovido a inclusão de mulheres à frente do volante de caminhões, bitrens e até tritrens, inclusive com oferta de cursos gratuitos de capacitação. Tanto é que o Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Sest Senat) em Bauru criou, em 2015, o projeto “Habilitação profissional: capacitação de novos motoristas” e, em cinco anos, o número de mulheres em cursos especializados como de transporte coletivo de passageiros, de produtos perigosos ou escolar cresceu 60,4%.
Por meio do programa, é possível obter a habilitação nas categorias D ou E sem custos. “Elas têm buscado qualificação técnica para ocupar as vagas ofertadas pelas empresas, que têm percebido que as mulheres agregam valor à operação, tanto no âmbito da direção segura – porque são mais cautelosas no trânsito e cuidadosas com o veículo -, quanto com o relacionamento com o cliente e os colegas de trabalho”, detalha a coordenadora de desenvolvimento profissional da instituição, Adriana Ferrari Gomes.
Entre as vantagens que já estão nas métricas destas empresas, estão a redução dos custos com autuações por infrações de trânsito e com seguro dos veículos, bem como de acidentes e de afastamento do trabalho por conta destes sinistros.
‘Posso encorajar outras a acreditar que também são capazes’, diz condutora
Miriam de Medeiros Alves, 45 anos, é um dos rostos femininos por trás dos volantes da empresa Transportes Coletivos Grande Bauru. Motorista profissional há cerca de dez anos, ela está há aproximadamente um ano e meio como ferista na companhia, que conta com sete mulheres desempenhando esta função.
Com CNH categoria D, Miriam encontrou na condução de ônibus sua realização profissional, após atuar em outros segmentos, como cabeleireira, depiladora, cozinheira e babá. Antes de ingressar no transporte coletivo, ela dirigia vans para o deslocamento de crianças e funcionários de uma entidade assistencial de Bauru.
A nova oportunidade na carreira, há um ano e meio, ocorreu após a conclusão de um curso de capacitação. “Sempre achei essa profissão interessante e resolvi tentar. Deu certo”, conta. Segundo Miriam, o acolhimento dos passageiros tem sido positivo, especialmente por parte das mulheres.
“Algumas até dizem que gostariam de ser motoristas, mas têm medo ou pensam que é muito difícil. Acredito que, mostrando que é possível, posso ser um exemplo para estas mulheres se encorajarem e acreditarem que são capazes também”, completa.
Por Jornal da Cidade