Hacker afirma que foi contratado por cunhado de Suéllen para monitorar desafetos
Um hacker, que confessou ter invadido celulares de autoridades que vão desde o ministro Márcio França (PSB) até o ex-vice-presidente da República Hamilton Mourão (Republicanos), revelou em depoimento à Polícia Civil ter sido contratado pelo cunhado da prefeita Suéllen Rosim (PSD), Walmir Henrique Vitorelli Braga, para monitorar desafetos do governo na política local em 2021.
O caso foi revelado pelo vereador Eduardo Borgo (Novo), que mostrou parte das investigações durante discurso na tribuna da Câmara de Bauru nesta segunda-feira (23) e afirmou que “a cidade precisa acordar [para o que está acontecendo]”.
Os alvos da artimanha, segundo o depoimento ao qual o Jornal da Cidade teve acesso, foram a vereadora Estela Almagro (PT) e o jornalista Nélson Itaberá, proprietário do site “Contraponto”. O autor das invasões teria sido Patrick César da Silva Brito, atualmente preso na Sérvia num centro de detenção de imigrantes.
Seu advogado, Daniel Medeiros, confirmou ao Jornal da Cidade o conteúdo das declarações e afirmou que o caso está sob investigação da Polícia Civil de Araçatuba.
Segundo as investigações, ele teria sido cooptado por um delegado de Araçatuba depois de invadir o celular do prefeito daquele município. O delegado teria oferecido a soltura de Patrick com a condição de que o hacker trabalhasse informalmente para a polícia. E assim foi feito, disse Brito.
No depoimento à Polícia, o hacker afirma ter encontrado Walmir por acaso. Um dos policiais envolvidos no suposto esquema de invasões ilegais a dispositivos eletrônicos, Felipe Garcia Pimenta, seria filho do padrasto de Vitorelli.
Walmir teria se apresentado ao hacker como cunhado da prefeita de Bauru e teria dito que a mandatária estaria “inconformada com a cobertura jornalística do website Contraponto, do senhor Nélson, que também era servidor da Câmara Municipal”. Além disso, relatou, a fonte de “tais matérias jornalísticas seria a senhora Estela Almagro, vereadora do PT”.
As reportagens que preocupavam o governo, segundo o depoimento de Patrick, tinham relação com uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) que apurava possíveis irregularidades nos contratos entre OSs e a Secretaria de Saúde, cujo titular na época era o vice-prefeito Orlando Costa Dias. Era a chamada “CEI da Fersb”.
Procurado, Walmir não retornou às mensagens ou às ligações do Jornal da Cidade. O cunhado da prefeita é assessor do deputado estadual Paulo Correa Júnior (PSD), cujo gabinete não atendeu ao telefonema do Jornal da Cidade realizado na tarde desta segunda.
A Prefeitura de Bauru, por sua vez, afirmou que não vai se manifestar “uma vez que não possui relação institucional com a situação”. Ainda em nota, a assessoria afirmou que “a prefeita Suéllen Rosim está em viagem, não acompanhou a sessão da Câmara e quando chegar vai se inteirar do assunto”.
Ao JC, a vereadora Estela Almagro (PT) afirmou que “as denúncias mostram um modus operandi de disputa política que se assemelham ao banditismo”. A petista disse ainda que pretende se reunir com o Ministério Público (MP) para solicitar o desmembramento do inquérito em trâmite em Araçatuba e que repassou o caso ao diretório estadual do PT. “Em 2021 eu passei meses sem redes sociais após um ataque hacker. E tínhamos informações na época de que isso se tratava de uma retaliação política”, prossegue.
O jornalista Nélson Itaberá, também alvo do caso, admitiu que recebeu “com tristeza” a revelação e destacou que o governo precisa esclarecer o caso. “É um ataque não apenas a mim, mas à sociedade de modo geral e especialmente à imprensa”, disse. O jornalista destacou ainda que está em férias, mas que deverá pedir acesso aos autos do inquérito tão logo retorne ao trabalho.
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Por Red