Governo de SP recebeu aviso de risco de desastre no litoral dois dias antes
O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) disse que o governo do estado de São Paulo e a Prefeitura de São Sebastião foram avisados com dois dias de antecedência sobre o risco de desastre na cidade em razão de fortes temporais. O alerta citava a Vila do Sahy, onde depois mais de 30 pessoas morreram.
Moradores relatam, porém, que não foram alertados pela Defesa Civil e que não houve nenhum pedido para que deixassem suas casas mesmo diante do perigo de deslizamento.
Em nota, a Defesa Civil Estadual disse que o risco foi divulgado na imprensa e redes sociais e por mensagens de SMS no celular das pessoas cadastradas em seu sistema em todo o Litoral Norte. As mensagens, porém, não dão dimensão do risco.
Por sua vez, a Defesa Civil da cidade de São Sebastião não fez publicações alertando sobre o risco. Nos canais da prefeitura, não foram publicados os avisos vindos do estado ou do Cemaden. O risco emitido pelo Cemaden no fim de semana era classificado como “muito alto”, o que significa a iminência de um desastre.
“Nós conseguimos fazer a previsão com 48 horas de antecedência, inclusive, dando a localização do desastre”, afirmou em entrevista ao g1 o diretor do Cemaden, Osvaldo Moraes.
O Cemaden, que é um órgão federal, opera sem interrupção, monitorando, em todo o território nacional, as áreas de risco dos municípios classificados como vulneráveis a desastres naturais.
O seu papel é acompanhar os índices meteorológicos e geológicos – de movimentação de terra – para, com base nisso, emitir alertas para que os órgãos de prevenção atuem nas áreas.
Balanço da Defesa Civil aponta 48 mortes (47 em São Sebastião e uma em Ubatuba). Mais de 50 pessoas continuam desaparecidas.
Veja a cronologia do desastre:
Quinta-feira (16)
Segundo o diretor do Cemaden, dois dias antes da tragédia, foi enviado um alerta ao governo federal e a Defesa Civil do estado de São Paulo sobre o risco de desastre.
O ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, confirmou a informação. O estado, por sua vez, diz que repassou o alerta ao município de São Sebastião.
Sexta-feira (17)
0h52: A Defesa Civil do estado de São Paulo enviou o primeiro alerta por SMS no celular de 34 mil pessoas cadastradas em seu sistema no Litoral Norte. Segundo o IBGE, a região tem cerca de 288 mil habitantes. A mensagem, porém, citava apenas “chuva isolada” em Ubatuba e nas áreas próximas.
Manhã de sexta: O Cemaden acionou o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad), do governo federal, para uma reunião conjunta com a Casa Militar de São Paulo, que é responsável pela Defesa Civil estadual.
“A reunião com eles ocorreu na sexta de manhã. Explicamos o panorama e elaboramos uma nota técnica, um alerta do risco já com essa situação de risco elevado. Isso foi entregue a todos os órgãos que atuam na prevenção de desastres”, explica Moares.
Segundo o presidente do Cemaden, o governo federal e o estadual receberam uma lista com todas as áreas em risco no Litoral Norte, incluindo a Vila do Sahy.
Sábado (18)
De sábado até domingo, o Cemaden emitiu aos órgãos de prevenção seis alertas sobre o risco de desastre de chuva e deslizamento de terra no Litoral Norte. Os avisos incluíam São Sebastião e também a Vila do Sahy.
12h22: A Defesa Civil do Estado enviou um SMS para a população avisando que a chuva estava se espalhando pela região de Ubatuba e Caraguatatuba.
No sábado à noite, começou a chover bem forte na região.
19h28: Um dos alertas do Cemaden avisou sobre o risco hidrológico (de chuva) muito alto. Toda a cidade de São Sebastião estava em vermelho no mapa de São Paulo.
19h49: A Defesa Civil do Estado enviou outro SMS para a população avisando que a chuva estava se espalhando pela região do Litoral Norte, com ventos e raios.
21h27: O Cemaden emitiu um alerta sobre o risco muito alto de movimento de massa (deslizamento de terra). Segundo o Cemaden, a classificação de risco muito alto significa que o “desastre vai acontecer”. Ou seja, que haverá deslizamento de terra e inundação.
“A função do Cemaden é prever o desastre e isso foi feito. Nossa responsabilidade termina aí. Emitimos o alerta para os órgãos na quinta-feira. Eles foram avisados”, reforça o diretor.
Por volta de 23h: A tempestade já estava bastante intensa, além do limite previsto pela meteorologia. A Defesa Civil municipal tentou chegar até a Vila do Sahy, mas já não havia mais acesso em razão dos deslizamentos de terra.
23h13: A Defesa Civil do Estado enviou um SMS dizendo que havia “chuva persistente no Litoral Norte” e alertava para que a população ficasse atenta “a inclinação de muros e a rachaduras” e, se precisasse, saísse do local. Neste momento, porém, não havia abrigo montado pela Defesa Civil ou qualquer orientação para onde a população deveria ir.
Domingo (19)
Por volta de 2h: As chuvas estavam bem intensas e começaram os deslizamentos na região do Litoral Norte. Vários pontos já estavam sem energia elétrica e sinal de internet ou celular.
3h15: A Defesa Civil do Estado de São Paulo mandou um novo SMS por celular orientando a população a ficar atenta a inclinação de muros e a rachaduras, mas não falava nada sobre o risco de deslizamentos.
6h23: Novo SMS da Defesa Civil do Estado de SP falava em chuva, vento e raios e pedia para, “em caso de inclinação diferente dos muros”, sair do local. No entanto, não fazia qualquer menção a deslizamentos. Nesse horário, já havia mortos e desaparecidos soterrados.
7h04: Pela primeira vez desde o início dos temporais, a Prefeitura de São Sebastião, em uma rede social, publicou um aviso de que tinha chovido forte na cidade e que havia “diversos deslizamentos, alagamentos e desabamentos”.
Por Redação/G1