Ex-comissionada diz ter levado bens públicos à igreja dos Rosim

Por André Fleury Moraes, do Jornal da Cidade

Ex-comissionada do gabinete da prefeita Suéllen Rosim (PSD) e aliada do governo desde 1 de janeiro de 2021, Damaris Nunes de Faria Pavan disse nesta quinta-feira (15) à imprensa ter participado de um suposto desvio de objetos doados à Prefeitura de Bauru para a igreja Ministério Produtores da Esperança (Mipe), comandada pela família Rosim, e de cestas básicas à escola de futebol chefiada pelo pai da prefeita, Dozimar.

Em nota, a administração disse repudiar as declarações da ex-aliada, as quais classificou de “levianas”, e afirmou que “medidas cabíveis serão tomadas” (leia mais nesta página).

Damaris, que concedeu entrevista coletiva numa cafeteria da Zona Sul, afirma ter levado os objetos em pelo menos duas ocasiões. Na primeira, na manhã de 21 de março de 2022, ela diz ter contratado um carreto (transporte de pequenas cargas) e retirado vários eletrodomésticos de um depósito situado na parte térrea do Palácio das Cerejeiras, sede da Prefeitura Municipal.

Segundo ela, foram levados um freezer duas portas, máquina de lavar louças, aspirador de pó e dois aparelhos de televisão, objetos doados pela Polícia Civil após terem sido apreendidos pela corporação. Eles teriam sido encaminhados a uma edícula aos fundos do antigo prédio da Mipe, na rua Maria José Cordovil de Souza – a igreja hoje está situada na Zona Sul, na rua Joaquim da Silva Martha.

Quem levou os eletrodomésticos foi um motorista chamado Moacir que, segundo Damaris, já morreu – ela disse ter contato com os familiares dele. No local, conta, ambos foram recebidos por Dozimar Rosim, pai de Suéllen, e uma mulher chamada “Marcinha”, que seria irmã de Lúcia Rosim.

Damaris exibiu o que seria uma conversa de Whats com Lúcia Rosim do dia 21 de março de 2022. “Bispa, bom dia. O senhor do carreto vai vir às 9h. Tem alguém lá para receber?”, indagou a então assessora às 8h34. A então presidente do Fundo encaminhou o endereço às 9h10. Às 9h16, Damaris diz “estamos indo”, ao que Lúcia responde “Ok o porão do fundo vai estar aberto a Marcinha cá moço do projeto vai receber (sic)”.

Print exibido com o que seria uma conversa entre Damaris e Lúcia, em março de 2022, no dia em que objetos doados pela Polícia Civil à Prefeitura de Bauru teriam sido levados à igreja; governo diz que acusações são ‘levianas’ e ‘sem credibilidade’ (Foto: Divulgação)

Nesta quinta, em entrevista coletiva, Damaris afirmou que não sabia que o destino dos objetos seria a igreja – segundo ela, Lúcia mencionou que a medida envolvia “um projeto”. Um servidor a teria acompanhado, mas ela não revelou o nome. “Para mim foi uma surpresa”.

Segundo Damaris, Lúcia telefonou a ela em mais de uma ocasião para informar que “Marcinha” estacionaria um Fiat Idea em frente à prefeitura e ordenar à então assessora de gabinete que colocasse cestas básicas dentro do veículo.

Ela nunca entrou no carro para levar os alimentos, mas soube que o destino das cestas era a Bauru Esporte Clube, escola de futebol dirigida por Dozimar e onde atletas passam vários dias da semana. “Ela [Lúcia] falava que era para uns meninos que vinham de outra cidade e estavam precisando muito de alimentação”, disse.

Os virtuais desvios teriam envolvido também uma outra igreja, ligada a Elisângela Cardoso do Prado Pereira, que presidiu o Fundo Social de Solidariedade e é considerada braço-direito dos Rosim. Nos prints mostrados por Damaris, uma conversa de 18 de abril de 2022, por volta das 15h, Elisangela pergunta: “amiga, como vou levar o que separei? A igreja tá precisando da potência e da mesa, coloquei na sacola. Eu queria uns dois monitores de TV”. Damaris então responde: “Amiga, amanhã eu dou um jeito de levar. Trouxe as mesas”.

Elisângela assumiu o Fundo Social de Solidariedade em junho de 2022 após uma passagem relâmpago da esposa do vice-prefeito Orlando Costa Dias (PP), que ficou três meses à frente do órgão naquela ocasião. O decreto na época disse que o desligamento ocorreu “a pedido” da mulher do vice, que segundo Damaris “é uma mulher íntegra”.

A ex-assessora afirmou ter comunicado a prefeita sobre tudo isso numa reunião em 2023 no gabinete. Suéllen teria dito que chamaria a Polícia, mas posteriormente que “o freezer já estava voltando”. “Acho que quis abafar”, afirmou, durante a entrevista coletiva.

No último dia 6, ao retornar de viagem, disse que tentou falar com Lúcia e Suéllen para discutir um cargo. Foi recebida somente pelo chefe de gabinete, que a comunicou sobre a demissão porque ela não tinha diploma de ensino superior, e disse, segundo Damaris, “para tomar cuidado”.

Pouco depois, Damaris disse em áudio a Lúcia Rosim que faria a família “pagar por cada lágrima que me fez derramar”. “Damares, de verdade eu não estou entendendo! Eu acho que você está nervosa e trocando os pés pelas mãos. Mas não vou pagar por aquilo que não fiz. Estou em paz como sol que nasce. Estou sempre à disposição (sic)”, respondeu Lúcia.

A relação entre ela e os Rosim, segundo Damaris, começou em 2016, quando Suéllen ainda trabalhava como repórter em uma emissora de TV. Ambos se conheceram numa clínica para a qual a ex-aliada trabalhava. Depois, Damaris diz ter aberto um estabelecimento de esmalteria, onde, segundo ela, Lúcia e Suéllen “faziam as unhas de graça”. Foi nomeada em 1 de janeiro de 2021, logo que a prefeita assumiu. Passou pelo gabinete, pela Emdurb e também pela antiga Secretaria de Administrações Regionais (Sear), hoje Serviços Urbanos.

As acusações são vingativas e sem credibilidade, diz prefeitura
Em nota encaminhada à imprensa, a Prefeitura de Bauru afirmou que “a prefeita Suéllen Rosim repudia com veemência as acusações levianas feitas pela ex-servidora Damaris Pavan”.

“Fica evidente o tom vingativo e ressentido de alguém que foi demitida por não atender aos critérios exigidos para ocupar cargos comissionados e que, agora, tenta manchar a reputação de terceiros com declarações sem qualquer credibilidade ou respaldo”. Ainda de acordo com a administração municipal, “medidas cabíveis serão adotadas”.