Contato com Palavra Cantada teria sido por mensagem e servidor apagou conversa
O primeiro contato entre a editora Movimenta, responsável pela publicação dos kits Palavra Cantada, e a Prefeitura de Bauru teria ocorrido a partir de mensagens no aplicativo WhatsApp entre o representante comercial Douglas von Gal e o servidor Fábio Colasso Schwarz, mas este último disse ter apagado as mensagens.
A revelação veio a público na reunião pública ocorrida nesta terça-feira (9) na Câmara de Bauru por iniciativa da Comissão de Fiscalização e Controle, presidida pela vereadora Estela Almagro (PT). Eduardo Borgo (PMB) e Chiara Ranieri (União Brasil) também participaram.
Fábio, que é diretor de departamento na Secretaria de Educação de Bauru, apresentou duas versões diferentes. Há cerca de duas semanas, na última reunião pública sobre o tema, ele afirmou que Douglas von Gal, representante comercial da Movimenta, havia o acionado pelo aplicativo de mensagens. Ontem, porém, disse não se lembrar da maneira como houve o primeiro contato.
E descartou a possibilidade de se confirmar ou não sua versão. “Reforço que apago todas as mensagens do meu telefone particular”, disse o servidor.
Questionado sobre como o representante havia conseguido seu número de telefone pessoal, Fábio tergiversou e disse que na época em que conversou com Douglas a secretaria de Educação estava em processo de mudança de prédio e que, como não havia telefone, muitos fornecedores o acionavam no número particular.
Professoras e diretoras de escolas municipais também acompanharam o encontro. E se mostraram surpresas ao descobrir que duas reuniões das quais participaram no ano passado, ocasiões em que tiveram o primeiro contato com o Palavra Cantada, foram fundamentais para avalizar a aquisição de R$ 5,2 milhões do projeto.
Em conversas reservadas, elas temem responsabilização caso a investigação evolua para a seara judicial e dizem se sentir usadas. Elas foram unânimes ao dizer que, quando da avaliação pedagógica, não foram informadas em nenhum momento sobre a compra dos materiais ou o preço da aquisição.
Ainda na reunião, a vereadora Estela apresentou um relatório da chamada “Operação Prato Feito”, uma investigação da Polícia Federal (PF) que apurou corrupção e desvios de dinheiro público em compras de, entre outras coisas, kits escolares.
Um dos alvos da operação foi um lobista da Editora Melhoramentos, antiga responsável pelos kits escolares do Palavra Cantada. O caso tramita sob segredo de Justiça, mas o relatório expõe diálogos interceptados que mostram políticos discutindo vantagens ilícitas. A operação foi deflagrada em 2018, e o esquema teria desviado, segundo a PF, R$ 1,5 bilhão de ao menos 37 municípios paulistas.
O JC apurou que Douglas, representante da Movimenta, trabalhou na editora Melhoramentos durante 22 anos. Começou como “divulgador escolar” em 1998 e foi promovido a supervisor em 2017. Deixou a Melhoramentos e se empregou na Movimenta.
Em nota, a Editora Melhoramentos disse não possuir qualquer envolvimento ou atribuição de responsabilidade, conforme esclarecido e decidido pelos tribunais competentes. Além disso, segundo a assessoria de comunicação da Editora, os direitos para publicação, distribuição e comercialização dos livros relacionados à Palavra Cantada deixaram de pertencer à Melhoramentos desde fevereiro de 2017, não tendo mais qualquer relação com as obras desde então.
Por JCNET