Foto: Bruno Freitas

Com 70 mil pessoas, fila por exames tem espera de até 40 anos em Bauru

Com mais de 70 mil pessoas na fila, a espera por exames e consultas pode chegar a 40 anos em Bauru. É o que revela o Cadastro de Demanda por Recursos de Saúde (CDR) de moradores que dependem do SUS na cidade.

A extensa planilha engloba a demanda por consultas e exames em especialidades médicas, odontológicas e multiprofissionais, além de evidenciar o número insuficiente de vagas oferecidas pelas redes municipal e estadual e o tempo em que os pacientes, em média, poderão aguardar para ter acesso a estes serviços.

E, pelos dados demonstrados no documento, estas pessoas precisam ser, realmente, pacientes, considerando que uma vaga para consulta em endocrinologia pediátrica pode demorar 40 anos para ser liberada, já que são realizados apenas três atendimentos anuais e a demanda reprimida já chega a 291 crianças.

De maneira igualmente grave, o tempo de espera para uma consulta de avaliação para cirurgia de varizes pode chegar a 38 anos e de fonoaudiologia, a 12 anos. Todos os dados constam na listagem encaminhada pela Secretaria Municipal de Saúde a pedido do Jornal da Cidade, a partir de informações geradas pelo sistema da Central de Regulação de Oferta e Serviços de Saúde (Cross), vinculada à Secretaria de Estado da Saúde.

Escassez

Do total de 70.822 moradores aguardando na fila, 28.101 precisam de consultas e 42.721, de exames. Porém, no ano, estado e município só realizam 43.452 atendimentos, sendo 24.474 consultas e 18.978 exames. Ou seja, a demanda reprimida por estes últimos, na média, é ainda mais crítica do que as primeiras.

Uma fonte ouvida pelo JC avalia que uma parcela deste contingente de pacientes registrados no cadastro pode não ser real, já que muitos devem ter morrido ou deixado de precisar do atendimento. Porém, afirma que, mesmo com a provável supernotificação, o volume de consultas e exames em Bauru está muito aquém do necessário.

“A demanda é muito maior do que a oferta por escassez de recursos, de investimento. O Centro de Especialidades Médicas Municipal (Policlínica), localizado na Araújo Leite e que funciona nos mesmos moldes do Ambulatório Médico de Especialidades (AME), do Estado, poderia funcionar como um reforço, dando alguma vazão ao menos aos maiores gargalos. Mas, hoje, pelo que consta, está fazendo muito menos atendimentos do que já fez no passado”, aponta o especialista em saúde, que concedeu entrevista sob a condição de anonimato.

Tendência

Assim como a quantidade de consultas ofertadas, o volume de exames também é insuficiente na rede pública. De acordo com o que consta no CDR, apenas para citar exemplos, são 4.832 moradores aguardando por endoscopia, com oferta de 145 vagas anuais, e 3.915 por ecocardiograma, com 151 procedimentos por ano.

E a tendência, segundo o especialista, é que os números desta fila continuem subindo, tendo em vista o aumento da expectativa de vida da população e consequente crescimento do número de pessoas idosas no município. “Quanto mais os indivíduos vão envelhecendo, mais eles precisam dos serviços de saúde. Se, também pensando que Bauru é referência regional, a estrutura de atendimento de saúde não for ampliada, incluindo consultas, exames, cirurgias e leitos de internação, invariavelmente este gargalo só irá aumentar”, completa.

Sem ultrassonografia

Outro dado que chama atenção, e que não foi explicado pelo Estado ou município, é a ausência de vagas para exames de ultrassom de mamas, pélvico e transvaginal pelo SUS em Bauru. Somente eles respondem por uma fila de espera de 14.297 pessoas. Conforme o JC apurou, estes procedimentos não são oferecidos pela Casa da Mulher, mantida pela prefeitura. Por meio de nota, o Departamento Regional de Saúde (DRS) de Bauru informou que, no primeiro semestre de 2023, disponibilizou ao município 722 ultrassonografias, sem mencionar quanto do total era para exame destas partes específicas do corpo.

O órgão também afirmou que a atual gestão trabalha para implantar cirurgias eletivas no Hospital das Clínicas de Bauru, além de ampliar a oferta de exames como endoscopia, ecocardiografia e raio-X e o atendimento de especialidades médicas a médio e longo prazos. “Neste momento, foi priorizada a abertura de leitos no Hospital das Clínicas e no Hospital Manoel de Abreu, considerando a necessidade de vagas de internação para atender a população local”, completa.

Por meio da assessoria de imprensa da prefeitura, a Secretaria Municipal de Saúde informou que vem dialogando permanentemente com o Estado para que mais vagas sejam oferecidas. “O município vem ainda investindo na melhoria da atenção básica”, completa, sem esclarecer se houve redução dos atendimentos na Policlínica e se a pasta tem a intenção de ampliar a oferta de exames e consultas no município. Nenhum porta-voz foi destacado para conceder entrevista sobre o assunto.

Por JCNET

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