De Bauru a Santiago de Compostela: violonista é único brasileiro em curso internacional de música
O violonista Alan Borges Guerreiro, 40 anos, natural de Bauru, viveu neste ano uma das experiências mais marcantes de sua trajetória artística. Morando na Europa há mais de uma década, ele foi o único brasileiro selecionado para o Curso Universitário Internacional de Música em Compostela, realizado em Santiago de Compostela, na Espanha.
O programa é referência mundial e reúne intérpretes de piano, canto, violino, violoncelo, composição e violão. Criado por Andrés Segovia, um dos maiores nomes do violão clássico, o curso se consolidou como uma “Meca” para instrumentistas. Foi Segovia quem introduziu o ensino do violão em conservatórios e universidades, transformando o instrumento em parte da formação acadêmica musical.

Desde a fundação, o encontro já contou com professores que marcaram gerações, como José Tomás, discípulo de Segovia, e hoje é coordenado por José Maria Gallardo del Rey. Foi com ele que Alan estabeleceu contato: após assistir a um concerto do mestre em Valladolid, cidade onde reside, o bauruense enviou vídeos de sua performance. A troca resultou em convite e bolsa integral para o curso.
“Não existe violão sem Segovia. Ele é central na história do instrumento. Estar nesse curso é uma honra imensa, especialmente por ter sido o único brasileiro entre músicos vindos de diferentes países”, afirma Alan.
A ligação de Alan com a música começou ainda na infância, em Bauru. Enquanto a irmã ensaiava passos de balé, ele ficava atento às trilhas clássicas que vinham de discos de vinil. Sem acesso a instrumentos, parecia um sonho distante. A decisão definitiva veio na adolescência, quando segurou uma guitarra em um campeonato de skate e percebeu que a música seria seu caminho.

O início foi em bandas locais e apresentações em bares da cidade. O desejo de se aprofundar levou-o à graduação em música na Unisagrado, concluída em 2012, e ao Conservatório de Tatuí, onde estudou até 2014. Pouco depois, partiu para a Irlanda, ingressando na Royal Irish Academy of Music.
A partir daí, sua carreira tomou rumo internacional. Passou pela Berlin International Guitar Academy, na Alemanha, e pela Basel Musik Akademie, na Suíça, onde trabalhou com Paul Galbraith, criador do “Brahms guitar” — violão com duas cordas extras, que se tornou seu instrumento preferido. Participou ainda de mais de 60 festivais de música clássica ao redor do mundo, sempre ampliando seu repertório e contatos.
Em 2023, conquistou o segundo lugar no Feis Ceoil, principal concurso de música erudita da Irlanda, impressionando o júri com sua interpretação de Bach. A preparação exigiu cinco meses de estudo intensivo, seis horas por dia, e o reconhecimento abriu portas para novas oportunidades acadêmicas e artísticas.
Hoje, além de lecionar em uma escola de música na Espanha, Alan se dedica ao mestrado em musicologia na Universidade de Valladolid. O projeto substituiu o doutorado que ele havia planejado cursar em Dublin, mas que acabou inviável devido aos altos custos de vida e da universidade irlandesa.
Reportagem Guilherme Matos | Revisão Lucas Cauã