Foto: Divulgação/TUSP

Circuito TUSP de Teatro promove três espetáculos gratuitos nesta semana

O TUSP, Teatro da USP, em parceria com a Prefeitura do Campus USP de Bauru (PUSP-B) e a Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB-USP), traz a XXI edição do Circuito TUSP de Teatro a Bauru. Nos dias 11, 12 e 13 de outubro, três espetáculos selecionados através de edital público trazem discussões sobre o trabalho e seus desdobramentos sociais.

“Ópera Febril”

Cena do espetáculo Ópera Febril. Foto: Letícia Ferreira/Divulgação TUSP

Na sexta, 11 de outubro, o primeiro espetáculo, “Ópera Febril”, vem de São José dos Campos com a Cia. do Trailer. Aprofundando os experimentos em teatro documentário, associados ao interesse de debater as condições sócio-históricas da cidade de São José dos Campos em sua interconexão com as estruturas sociais, o grupo investigou o desenvolvimento da Tecelagem Parahyba na cidade a partir das condições dos trabalhadores.

Para tanto, leituras filosóficas, como as de Byung Chul-Han sobre a sociedade contemporânea, promovem um pano de fundo para a discussão performática e documental que enlaçam o local e o global, o passado e o presente, e a permanente exploração dos trabalhadores.

“Ópera Febril” mergulha na essência do trabalho, desde a sociedade fabril até os dias atuais, explorando suas nuances e desafios contemporâneos. A encenação nos transporta por dois momentos cruciais na evolução da exploração do trabalho para aqueles que não detém os meios de produção.

Primeiramente, somos levados ao cerne da fábrica, uma instituição que simboliza condições de trabalho dúbias, com alta demanda de produtividade e poucas seguridades, além de um sistema opressivo.

Em outro momento, questiona-se a ideia dissimuladamente libertária do “patrão de si mesmo”, onde a voz interna do trabalhador o persuade a se entregar totalmente ao trabalho, sacrificando seu bem mais precioso: o tempo.

“Três Pratos de Trigo para Três Palhaces Tristes”

Cena do espetáculo “Três Pratos de Trigo para Três Palhaces Tristes”. Foto: Divulgação TUSP

No sábado, dia 12 de outubro, temos “Três Pratos de Trigo para Três Palhaces Tristes”, da Trupe Tópatu de São Carlos. A peça não utiliza palavras e por meio de uma trilha sonora original criada por Alexandre Scarpelli, as três figuras tristes vivem em um local empoeirado e envelhecido, materializado pelo cenário e adereços de Anny Lemmos e figurinos de Daniele Busatto.

Com dramaturgismo de Bruno Garbuio, a peça teve como referências para a criação o psicodrama “Palhaços” de Timochenco Wehbi, de onde veio a inspiração do local ser os bastidores de um circo; A ideias de exaustão, desempenho e cansaço foram inspiradoras para nossas imagens dramatúrgicas e vieram do ensaio “A Sociedade do Cansaço”, do filósofo Byung-Chul Han; e a ideia de ausência do ócio e da fantasia na sociedade contemporânea – devido a experiência temporal ditada pelo neoliberalismo – vieram da obra “O tempo e o cão – a atualidade das depressões” da psicanalista Maria Rita Kehl.

Em “Três Pratos de Trigo para Três Palhaces Tristes” a Trupe Tópatu e Gabriel Bodstein buscaram experimentar a palhaçaria na contramão da ideia comum do chiste, daquela figura cômica por excelência que se envolve em situações sem lógica ou bobas. Esta não é uma peça que busca ser divertida, o riso acaba sendo uma consequência de outra ordem que não a da piada ou gag de palhaçaria.

Sacarose”

Cena do espetáculo “Sacarose”. Foto: Divulgação TUSP

Fechando a programação, no domingo dia 13 de outubro apresenta-se “Sacarose”, solo de Edu Rosa, com o tema do açúcar. Um cruzamento entre suas memórias pessoais e as memórias históricas do Brasil. O artista é oriundo de uma família de migrantes nordestinos que vieram para o interior paulista para trabalhar nas usinas açucareiras da região. Durante sua infância e adolescência, ele testemunhou os abusos trabalhistas estabelecidos entre as usinas e seus familiares, ex-boias-frias.

A peça opera no limite entre realidade e ficção, fazendo uso de depoimentos dos familiares do artista em contraste à figura de um narrador que busca trazer para a cena a discussão sobre vestígios de nosso passado colonial que se mantém em vigência no tempo presente.

O artista, que testemunhou durante sua infância e adolescência a experiência de sua família no corte de cana-de-açúcar, percorre junto ao público as inquietações que o conduziram durante o processo criativo da peça: “(…). Pra quem não sabe, sacarose é açúcar! (…). Quando eu penso em açúcar, eu penso em abusos trabalhistas (…)”.

Na obra, ele associa esses abusos às condições degradantes do trabalho escravo e os define como “(…) restos mal elaborados de nosso passado (…)”. Com essa premissa, ele traça um paralelo entre a história da cana no Brasil e sua história pessoal. Assim, busca trazer para cena um olhar para uma das maiores contradições de nossa sociedade, simbolizada por esta planta, que nos gerou grande progresso e foi o canal para nos tornarmos o maior mercado de escravizados do mundo.

Todos os espetáculos acontecem no Teatro Universitário “Dioracy Fonterrada Vieira”, da Faculdade de Odontologia de Bauru. A entrada é pública, mas pede-se a doação de um litro de leite que será destinado a organizações assistenciais de Bauru e região.

Serviço:
XXI Circuito TUSP de Teatro

Dia 11 de outubro – 19 horas: “Ópera Febril”
Dia 12 de outubro – 19 horas: “Três Pratos de Trigo para Três Palhaces Tristes”
Dia 13 de outubro – 19 horas: “Sacarose”

O Teatro Universitário da FOB-USP fica na Alameda Dr. Octávio Pinheiro Brisolla, 9-75, Vila Universitária, Bauru, SP. Para mais informações, entre em contato pelo telefone 14 3235-8394.

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